WARM UP: Qual a função dos Pneus?
- Formulando by Pedro Henrique
- May 26, 2022
- 12 min read
Quais os tipos de pneus? Existem diferenças entre eles? Quando é melhor usar um ou outro? O desgaste do pneu pode afetar uma corrida? Existe uma estratégia para uso?

De volta ao A,B,C da F1 com o Warm Up! Hoje vamos começar a falar do objeto principal da corrida, os carros! E para começar explicar de fato o veículo que os pilotos usam na F1, devemos entender que existem diversas complexidades dentro do carro, desde conceitos de design aerodinâmicos, peso, equilíbrio, potência, combustível e claro, não menos importante os pneus.
Assim como todo e qualquer carro, um F1 também necessita de pneus para rodar, porém, engana se quem acredita que o mesmo pneu que vemos nos carros de rua são iguais ao pneu de um F1. Bem, basicamente podemos considerar inclusive que o conceito de ambos tipos de pneus são completamente opostos, isso porque o carro de rua é feito para transitar em situações cotidianas, e um F1 (ou até mesmo outros carros de corridas), são projetados para correr em 99% do tempo em que ele está em uso (Deixo esse 1% em relação ao tempo em que os carros entram e saem dos boxes, onde necessariamente eles não correm). O fato é que pelo conceito de uso dos pneus já é possível entender que ambos os tipos são completamente diferentes. E partindo desse princípio vamos ao entendimento de como tudo isso funciona!
No parágrafo anterior citei o exemplo de carros de rua com pneus que são opostos ao de um F1. E basicamente para fixarmos esse conceito que é o principal motivo de importância para entendimento dos pneus da F1, vamos entender a seguinte constante: Os pneus de um carro comum basicamente rodam, as vezes, correm, às vezes andam devagar ou por hora ficam até parados. Além disso, os pneus sofrem intempéries do tempo a todo momento dias de chuva, sol, garoa, sujeiras, asfalto seco, quente, esburacado, enfim! Uma infinidade de possibilidades de superfícies por onde esses pneus devem passar. Uma história engraçada sobre pneus de carros aconteceu em Nova York e em Londres. Na capital da Inglaterra um edifício conhecido como Walkie-Talkie foi construído com fachada de vidro reflexivo, e após altas temperaturas durante o verão, o calor rebatido do vidro no chão fez com que o asfalto esquentasse tanto que os pneus de um Jaguar estacionado a frente do prédio derretesse. Esse incidente já ocorreu também em caso semelhante com diversos carros que tiveram suas pinturas estragadas com o aquecimento, assim como derretimento de pneus, pois estavam estacionados em frente ao Walt Disney Concert Hall em NY que também, por motivo de sua fachada, reflete os raios solares e calor para os carros e asfalto. Em ambos casos a semelhança foi o derretimento dos pneus dos carros devido a alta temperatura de aquecimento do asfalto. Os compostos dos pneus de rua também são de borracha como os de um F1, porém, em princípio por ser totalmente oposto, ele não é feito para atingir grandes temperaturas, e caso ocorra o pneu acaba perdendo suas propriedades físicas o que o torna inseguro ou até mesmo faz perder rendimento, podendo estourar, furar, rachar e etc.
Por outro lado, os pneus de um F1 e carros de corrida em geral, são basicamente o oposto. Na F1 os carros como dito anteriormente ficam 99% do tempo correndo em altíssimas velocidades, em asfaltos, em sua maioria, de autódromos que também tem gramaturas diferentes que um asfalto de rua. (Aqui vale uma observação que algumas corridas do calendário do campeonato, são realizadas em circuito de rua, ou seja, com asfalto de rua, esse é o caso de Monaco, Azerbaijão, Gilles Villeneuve no Canadá e Melbourne na Austrália). O fato é que um pneu que está sempre correndo, automaticamente está condicionado a maior atrito com o asfalto o tempo todo. E partindo para alguns princípios básicos da física uma superfície que se mantenha em atrito por muito tempo, tem sempre a tendência a superaquecer. Ou seja, os pneus de um F1 são feitos sob a condição de que eles basicamente são feitos para suportarem altas temperaturas, onde, seu funcionamento, produtividade, rendimento e segurança está sempre condicionado a sua alta temperatura.
Ótimo, agora você já sabe a principal diferença entre um pneu de rua e um F1. E que basicamente pneus de F1 são feitos para funcionar sempre quentes, em altas temperaturas. Agora podemos partir para os pontos mais específicos sobre os pneus. Podemos começar falando um pouco sobre os compostos e suas gamas.
Bem, basicamente compostos são as propriedades físicas que cada pneu é construído. Existem 3 tipos de pneus que podem ser utilizados em uma corrida, esses três tipos são identificados com cores diferentes, sendo as cores Branco, Amarelo e Vermelho. Sendo esses: Branco - Duro, Amarelo - Médio e Vermelho - Macio. E assim como os tipos de classificação existem os compostos que são nomeados de C1, C2, C3, C4 e C5. Ao todo existem 5 compostos para 3 tipos de pneus, o importante de entender é que a ordem de dureza é de C5 para C1, sendo o C5 o mais macio e o C1 o mais duro.
A gama de pneus varia conforme o composto estabelecido para uma determinada corrida. Como assim? Imagine uma corrida onde para as condições do asfalto, clima, declividades e outras condições físicas do autódromo onde será disputada a corrida, ficou definido que o melhor composto para utilização naquele circuito é de pneus duros. Nessa situação o pneu mais duro seria o Composto 01 ou C1, o amarelo seria o C2 e o vermelho C3. Isso porque, todos os carros têm como opção apenas 3 tipos de pneus disponíveis para uso durante o fim de semana (Brancos, Amarelos e Vermelhos). Agora imagine que na semana seguinte a F1 desembarca em um circuito cujo o melhor composto, ou seja, o composto que mais terá resultado na corrida é o composto macio. Dessa forma, os pneus Brancos (Duros), passam a ser o C3, médios C4 e macios C5. Ou seja, o composto é definido conforme a condição de cada corrida, e a gama é de acordo com o composto, sempre respeitando 3 opções.

Vale ressaltar ainda, que a F1 atualmente dispõe de 2 opções de pneus específicos para situações de pista molhada, ou seja, quando está chovendo ou já choveu e a pista ainda está molhada, ou até mesmo em situação de chuva fraca.
Essas duas opções são: Pneus intermediários e de chuva. Sendo esses também classificados por tipo de uso e cores. Os intermediários são pneus de chuva fraca e/ou pista molhada sem chuva. Os pneus azuis ou pneus de chuva, são considerados quando existe uma camada considerável de água na pista, e/ou está chovendo forte. A maior diferença desses pneus são os frisos que eles contêm, são aqueles pequenos riscos que é possível enxergar no pneu, e que basicamente funcionam para espalhar a água que pneu toca na pista, fazendo com que o carro não perca aderência na pista e acabe ocasionando algum acidente.
Os pneus comuns (Brancos, Amarelos e Vermelhos), são todos iguais esteticamente dizendo, ou seja, diferente dos pneus de chuva esses pneus não contém nenhum friso, risco ou marcas. Esses pneus são completamente lisos, a intenção nesse caso é que o pneu tenha total aderência no asfalto, afinal, quanto maior for a área de borracha do pneu a tocar no chão maior será o atrito do pneu e maior a tração e aderência que o carro terá. Dessa forma, pneus lisos ou Slick como também são conhecidos, são os pneus mais funcionais para situação de pista seca.
Existem regras para uso dos pneus? É necessário trocar os pneus durante a corrida? Porque os carros trocam de pneus durante a corrida?
Sim, Sim e porque sim! Essa basicamente seria a resposta para as três perguntas de modo geral, mas como o intuito aqui é tornar você expert no assunto, vou explicar as três perguntas de uma só vez!
Bem, pensando que na F1 o que de fato é usado como objeto de disputa é o carro, existem regras muito específicas para os carros. Se levarmos em comparação a outros esportes, no futebol a bola tem suas especificações, assim como os uniformes e chuteiras, prevendo a melhor performance e desempenho dos atletas e do esporte. Na F1 não é diferente, a bola da fórmula 1 é os carros, ou seja, sim existem regras para tudo dentro dos carros, inclusive para os pneus. Entre as regras, a mais importante é a regra sobre uso dos pneus durante todo o final de semana. Existe uma determinação de quantidade de pneus disponíveis para cada equipe, e como eles devem ser utilizados. No passado da categoria essas regras já foram diferentes, inclusive já houve momentos onde nem existiam padronizações de pneus como hoje em dia. Se quiser conhecer um pouco mais sobre a história da evolução dos carros de F1, existe um documentário muito bom na F1TV chamado “Os melhores carros construídos da história” é um documentário que conta sobre diversos carros, que são considerados icônicos e vencedores até hoje, passando pelos anos de 1950 até os anos 1990 e 2000.
Desde alguns anos, adotando medidas que procuram minimizar a quantidade de poluição gerada pela categoria com descartes de pneus, por exemplo, a F1 vem trabalhando forte no controle do uso dos pneus por todas as equipes determinando quantidades específicas para uso no fim de semana e outras regras, evitando assim desperdícios.
Todas equipes chegam no final de semana com todas as gamas disponíveis para uso, Duros, Médios e Macios. Porém, cada equipe escolhe quantos pneus de cada gama ela irá querer para todo o final de semana, respeitando o limite máximo de 16 pneus para cada carro. Dessa forma, cada equipe começa desde este momento a construir sua estratégia de uso dos pneus para treinos, classificação e corrida. Lembrando que a equipe só irá dispor destes 16 jogos de pneus, não podendo exceder tal limite.
Existe uma regra muito importante na F1 sobre o uso dos pneus durante a corrida principalmente. Durante a corrida todas equipes são obrigadas a usarem 2 tipos de pneus diferentes, ou seja, supondo que o piloto X inicie a corrida com um pneu macio ele obrigatoriamente deve trocar em algum momento da corrida (Que fica a critério de cada equipe o momento de troca), o seu pneu para outro tipo, seja Médio ou Duro. A quantidade de trocas de pneus por corrida é livre, cabe a estratégia de cada equipe ou necessidade de cada pista. O fato é que todos os carros devem usar pelo menos 2 tipos de pneus diferentes por corrida obrigatoriamente. Essa regra apenas e exclusivamente não se faz necessária, sob a condição de chuva. Apenas em condição de pista molhada todas as equipes podem escolher por não trocar os pneus, e terminar a corrida com os mesmos pneus que começaram.
Mas, uma coisa importante de se ressaltar é que os pilotos e suas equipes não trocam de pneus apenas por obrigação, mas também por outros motivos. Esses motivos podem ser, estratégia, desgaste e/ou outras necessidades particulares. Mas para entendermos um pouco sobre como os pneus podem ser estratégicos em uma corrida e como seu desgaste é algo que é medido a todo tempo e deve ser observado, veja o seguinte:
Em um comparativo simples imagine a condição em que um pneu novo sempre terá melhor desempenho e uso do que um pneu gasto ou usado. Ou seja, um pneu novo recém trocado,ou colocado no carro, tende a correr mais, e ter maior desempenho em pista que um pneu usado, ou pneu que já rodou algumas voltas. Por esse motivo, o momento de parada nos boxes, para troca de pneu, assim como a escolha do tipo de pneu a ser utilizado no começo, meio e fim da corrida é algo tão importante e que faz parte do jogo estratégico da corrida. Onde através do estudo de dados comparativos do comportamento do desgaste dos pneus dos carros adversários. As equipes constroem sua estratégia para determinar qual pneu usar, quando é o melhor momento de parar o piloto para troca do pneu, e como está se comportando o pneu nas condições da pista, tudo isso feito internamente em tempo real por uma série de engenheiros nos boxes.
Para ilustrar uma situação de como os pneus influenciam a estratégia e podem ser determinantes, vamos observar um caso real ocorrido na última corrida da temporada de 2021, onde Max Verstappen se tornou campeão da categoria pela primeira vez! Para alguns, que não entendem mais a fundo o esporte, e suas dinâmicas, podem ter visto as imagens e imaginado que o carro de Max estava mais rápido, ou que o Hamilton não conseguiu segurar o Verstappen, ou até mesmo que o Verstappen teve sorte. Pois bem, na verdade tudo foi possível por uma condição simplesmente baseada em pneus. Vale lembrar aqui que não vamos discutir a consequência de tal caso, ou as polêmicas envolvendo as regras e a direção de prova durante essa corrida. Mas vamos focar especificamente no motivo de Max Verstappen ter passado por Lewis de maneira tão forte e sem deixar a menor condição de defesa para Lewis retomar sua liderança.
Momentos antes da ultrapassagem, a condição da pista era a seguinte: Todos os carros estavam na pista, agrupados devido a um acidente, onde o carro de segurança (Safety car), estava a frente de todos, e andando em velocidade menor, aguardando a retomada da corrida, procedimento esse comum em caso de acidentes (Iremos falar sobre acidentes em textos mais a frente). A estratégia da Redbull começou da seguinte maneira: Quando o acidente aconteceu na pista, a equipe da Redbull informou Max que haveria safety car, e todos carros iriam se reagrupar, isso é importante pois havia um tempo considerável entre Max e Lewis que estava em sua frente, que em condições normais sem o reagrupamento de todo o grid não haveriam chances reais de Max conseguir alcançar Lewis e ultrapassar, pois a corrida já estava nas suas voltas finais. O fato é que ao informar o acidente, imediatamente a equipe ordenou que Max entrasse aos boxes para trocar seu pneu, e isso aconteceu. Max entrou, voltou ainda na segunda colocação, porém, agora com pneus novos e com um pneu macio (Vermelho), que para a pista em questão era o composto mais rápido. Lewis por sua vez, não entrou nos boxes e a Mercedes não lhe orientou para fazer também a troca dos pneus e manter seu carro com as mesmas condições que Max Verstappen. Cabe aqui apenas uma observação que a Mercedes não escolheu entrar com Lewis nos boxes, por acreditar que a corrida não teria tempo de ser reiniciada antes de concluir todas as voltas. Ou seja, segundo a Mercedes não havia tal preocupação pois a corrida terminaria com Safety car na pista. (Lembrando que quando o Safety Car está na pista à frente dos carros, guiando o agrupamento, nenhum carro pode ultrapassar o outro).
O que ocorreu foi que de maneira, polêmica e controversa, a corrida foi autorizada a retomar na metade da última volta. A situação então era de que Lewis tinha um pneu médio (amarelo) e também usado, o piloto já havia dado várias voltas com seu pneu, e logo atrás dele, vinha Max Verstappen com pneus novos e macios (vermelhos), que eram superiores e mais rápidos. Após a autorização de re-lagarda foi apenas questão de algumas curvas para Max ultrapassar Lewis, que sem condições nenhuma de segurar Max poderia ter feito algo, pois seus pneus estavam gastos e eram de composto com rendimento inferior (em questão de velocidade).
O exemplo acima apenas foi citado para entendimento que em condições de dois carros com potências semelhantes e motores fortes, o pneu pode dar vantagens ou desvantagens expressivas, que pode ditar o resultado de uma corrida.

Como os pneus desgastam? E todas as equipes têm seus próprios fornecedores de pneus?
Essas duas perguntas são suficientes para selarmos nosso assunto sobre pneus, e tudo que você precisa saber para se tornar mais expert no assunto. Primeiramente vamos falar sobre desgastes. Imagine que você tem uma borracha nas mãos, uma borracha dessas que usamos para apagar coisas. Agora faça o seguinte experimento: Faça o movimento de atrito como se fosse apagar algo em uma superfície lisa, como um vidro, ou algo liso o suficiente quanto. Após isso, com a mesma borracha, faça o mesmo movimento, porém agora é uma folha de papel, e para terminar, repita o procedimento em uma lixa, podendo ser lixa de parede ou até mesmo uma dessas lixas que usamos para unhas. Você irá obter 3 resultados diferentes. Notará que quanto mais abrasivo, ou melhor, quanto mais a superfície se comportar como algo mais áspero, mais granulado a borracha irá soltar mais farelos e gastar muito mais rápido. Deve-se notar também que no papel e no vidro a borracha tende a se comportar diferente, deixando mais borracha sobre a superfície do vidro do que do papel, por ser uma superfície super lisa. Esses efeitos são exatamente o comportamento que podemos atribuir aos pneus de um F1. Dependendo do tipo de asfalto, o pneu poderá desgastar mais rápido ou não, podendo ainda, soltar mais borracha ou não. Vale lembrar que não apenas o asfalto pode influenciar no desgaste, mas também, o peso do carro e a sua aerodinâmica, isso porque esses dois fatores fazem o carro ter mais ou menos atrito com a superfície, mas iremos falar melhor sobre aerodinâmica nos próximos textos dessa série.
A alguns anos a F1 tem apenas uma fornecedora de pneus, a marca italiana Pirelli. Ela é responsável por projetar e fabricar os pneus, testar, analisar, distribuir e fazer todas as pré indicações de usos para todas as equipes de forma geral. No passado até que recente da F1, havia mais de uma fornecedora de pneus, porém, esse processo foi banido pois havia diferenças muito grandes entre uma fornecedora e outra, e na época cada equipe poderia escolher com qual das duas fornecedoras eles poderiam fechar seus contratos de fornecimento para o ano. Isso fez com que a categoria ficasse totalmente dividida por uso de pneus e suas fabricantes. Para não deixar que tal condição afetasse o campeonato, e fizesse com que as equipes ficassem tão distantes em desempenho devido aos pneus, foi decidido que haveria apenas uma fornecedora de pneus, sendo esta a Pirelli. Desde então a marca é responsável por calçar os carros da F1.
Uma curiosidade para fecharmos o assunto, todos os pneus de todas equipes são armazenados e guardados juntos, devidamente nomeados e identificados para não haver mistura de pneus, e acabar um pneu do piloto X ir para no carro do piloto Y. Mas a curiosidade é que esse espaço onde os pneus ficam é ao lado dos boxes, e ele é controlado e cuidado pela Pirelli, e por se tratar de um lugar onde pneus “dormem” e “vivem sob cuidados” esse espaço é chamado de berçário, pois esses pneus são tratados como nenens literalmente por todos. Acho que por aí já dá pra se ter uma noção da importância que o pneu tem para o esporte e para a corrida né?
Nos vemos no próximo texto desta série, para aprender mais sobre Downforce e conceitos aerodinâmicos dos carros, além de falar um pouco sobre o design dos veículos, e como apesar de “parecer” carros iguais, eles são completamente diferentes! Continue acompanhando a série!
Valeeeuuummm…
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